quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Carta ao Presidente da Câmara Municipal sobre a adesão ao PAEL


A Câmara Municipal de S. Pedro do Sul deliberou, e submeteu à Assembleia Municipal uma proposta de adesão ao PAEL, que visa a obtenção de um empréstimo de médio e longo prazo, a 14 anos, para pagar € 3 454 763,05 de dívidas a fornecedores, já vencidas a mais de 90 dias em 31/03/2012, e ainda não pagas.

Tal empréstimo, sujeita a autarquia, no período de amortização, a um conjunto de medidas com vista à redução da despesa e ao aumento da receita. Pese embora esta adesão ao PAEL dar razão às críticas que o Bloco de Esquerda tem feito sobre a gestão financeira do Município, após a análise do plano, o Bloco de Esquerda ofereceu-se para o viabilizar, bem como ao empréstimo, na condição de a Câmara Municipal recuar na aplicação da Medida I – Adequação dos tarifários, saneamento e resíduos urbanos às recomendações da ERSAR. Desta medida consta “ prevendo, designadamente as seguintes “variações anuais nas receitas referentes aos tarifários actualizados: 2013 – 7%, 2014 – 7%, 2015 – 14% e 2016 – 13%”. Neste sentido, um dia depois de conhecer a proposta, e um dia antes da Assembleia Municipal, o Grupo Municipal do BE dirigiu a seguinte carta ao Senhor Presidente da Câmara Municipal, que não respondeu:

Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal de S. Pedro do Sul,

 

S. Pedro do Sul, 28 de Setembro de 2012

 

URGENTE

 

O Grupo Municipal do Bloco de Esquerda, tendo analisado a proposta da Câmara Municipal de S. Pedro do Sul relativamente à adesão do Município ao PAEL, vem dizer o seguinte:

 

1 - Pese embora o Grupo Municipal do Bloco de Esquerda há muito manifestar a sua preocupação com a dívida municipal a fornecedores, e de estarmos convictos que tal dívida foi gerada graças a orçamentos inexequíveis do ponto de vista da arrecadação da receita (com previsões de arrecadação absolutamente irrealistas), é com inquietação que verificamos a elevada mora de muitos destes compromissos.

 

2 - O Grupo Municipal do Bloco de Esquerda não pode deixar de responsabilizar a maioria PSD que governa a Câmara Municipal, bem como à maioria PSD por esta situação, designadamente pelo seu sucessivo branqueamento nos debates tidos em sede de Câmara e Assembleia Municipal. Mais, a persistência na orçamentação irrealista de receita, por nós oportunamente denunciada, alavancou esta situação lamentável que o Município enfrenta. Esta gestão, que o Grupo Municipal do Bloco de Esquerda não pode, de forma alguma, reputar de saudável e responsável, bem como o seu encobrimento nos sucessivos debates causou estes intoleráveis atrasos no cumprimento das obrigações do Município de S. Pedro do Sul, e desta forma afecta, neste momento de grave crise económica e financeira, a saúde de muitos agentes económicos privados, de forma directa e indirecta, isto é, aqueles que são credores do Município, e aqueles que são credores dos credores do Município. negar, sem aceitar qualquer negociação, apoio a esta adesão ao PAEL é um irresponsável acto de promoção de dificuldades às empresas credoras e à manutenção dos postos de trabalho das mesmas.

 

3 - Mais, em momento de graves condicionamentos ao investimento municipal, considerando as quebras de receitas nas taxas de operações urbanísticas ou de IMT, considerando ainda o espartilho financeiro imposto pela Lei dos Compromissos, é impensável qualquer leviandade no voto contrário a esta proposta, sem qualquer abertura para uma negociação séria. Se o estado a que chegámos é revelador, a nosso ver, de uma grande irresponsabilidade na gestão municipal, maior irresponsabilidade seria o chumbo incondicional da proposta da Câmara Municipal. E não podemos esquecer algumas obras já lançadas, com o concurso de fundos comunitários, mas para as quais é necessário assegurar o financiamento da parte não comparticipada, como sejam a requalificação do Centro Histórico de S. Pedro do Sul ou como a construção do novo Centro Escolar.

 

4 - Isto dito, seria de grande irresponsabilidade por parte do Bloco de Esquerda, em nome de uma revanche política, ou de uma sede incontrolável de poder, estar predisposto, sem mais, a não votar favoravelmente à adesão do Município de S. Pedro do Sul ao PAEL.

 

5 - Com efeito, o Município de S. Pedro do Sul adere ao PAEL no âmbito do Programa II, pelo que não está obrigado a nenhuma medida específica, apresentando livremente as medidas que pretende implementar, nos termos da Lei n.º 43/2012, de 28 de Agosto.

 

6 - Analisadas as medidas propostas pela deliberação da Câmara Municipal de S. Pedro do Sul, cumpre-nos dizer que:

a) Não vemos qualquer inconveniente na Medida II, na Medida III, e na Medida VII;

b) Quanto à Medida IV, e pese embora o Bloco de Esquerda desde já manifestar reservas à alienação de património imobiliário e bens culturais do Município, não nos opomos a eventuais concessões e arrendamento de bens imobiliários, que não constituam património cultural ou sejam necessários à prossecução das atribuições do Município. De resto, os valores apontados, são exequíveis por esta via, não se olvidando ainda a possibilidade de alienação de bens móveis dispensáveis;

c) A Medida VI, merece o nosso apoio desde que sejam desligados postes intercalados, e não todos os postes de uma zona, ainda que alternadamente, atenta a necessidade de assegurar o sentimento de segurança nas populações, em especial nas zonas residenciais e comerciais;

d) Já a Medida VIII, não pondo em causa despedimentos, merece o nosso apoio, desde que a redução de horas extraordinárias não ponha em causa os serviços públicos de saneamento e abastecimento de água, bem como os serviços ligados à educação e funcionamento de escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico.

 

7 - Todas estas medidas, não obstante as reservas aqui manifestadas, não comprometem o cabal exercício das competências ca Câmara Municipal de S. Pedro do Sul em mandatos futuros, atenta a sua razoabilidade e ao amplo consenso que merecem, bem como à sua irrelevância negativa nos encargos que os munícipes suportam.

 

8 - O mesmo já não de pode dizer da Medida I. Pese embora se invocar a recomendação n.º 02/2010 da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, esta medida para além de penosa para os munícipes e empresas, é um compromisso que põe em causa, de forma perene e sem alternativas, a acção dos órgãos das autarquias locais a eleger em 2013 e nas eleições seguintes. Esta é uma matéria que merece ponderação e debate público, a nosso ver em sede eleitoral, sendo de destacar o carácter de bem essencial da água e do saneamento básico, e a ausência de alternativas de serviço eficiente por parte dos utentes. Assim, esta é uma sujeição inaceitável para executivos futuros, tanto mais que Vossa Excelência, por força da limitação de mandatos, não terá oportunidade, em tempo útil, de responder eleitoralmente por ela. Note-se que falamos de um aumento de arrecadação de 7% em 2013, 7% em 2014, 14% em 2015 e 13% em 2016!

 

9 - O Grupo Municipal do Bloco de Esquerda sempre manifestou a sua disponibilidade para dialogar com a maioria, aliás no cumprimento dos direitos/deveres do Estatuto do Direito de Oposição, previsto na Lei n.º 24/98, de 26 de Maio. Apesar de não termos sido ouvidos nesta matéria, e relativamente à qual diríamos o que já aqui foi exposto, mostramo-nos disponíveis para votar favoravelmente a adesão ao PAEL, na condição indispensável de a Câmara Municipal de S. Pedro do Sul retirar, sem reservas, a Medida I, isto é a adequação dos tarifários de abastecimento de água, saneamento e resíduos urbanos às recomendações da ERSAR.

 

10 - Mais solicitamos, a realização de uma reunião com carácter de urgência para conjuntamente com Vossa Excelência e a Câmara Municipal avaliarmos a concretização desta hipótese, que é para nós determinante na opção pelo voto favorável ou contrário a esta proposta ca Câmara Municipal. Sendo certo que dispõe Vossa Excelência de confortável maioria na Câmara Municipal e na Assembleia Municipal, a gravidade desta decisão aconselha ao máximo consenso político possível, ao qual, nas condições e com as reservas expressas, não fechamos a porta.

 

Apresentamos pois, os nossos mais elevados protestos de estima e consideração pessoal e institucional,

 

Pelo Grupo Municipal do Bloco de Esquerda,

 

 

Rui Costa

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